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Sucessão Familiar: Um Desafio de Pessoas, Não Apenas de Negócios

Por Elaine Asato – Embaixadora da Gestão Humanizada

Falar de sucessão em empresas familiares é falar de futuro. E, ao contrário do que muitos acreditam, não é um tema que pode ser tratado apenas no “quando chegar a hora”.
A sucessão começa muito antes da transição formal de cargos ou da assinatura de documentos — ela começa no modo como a empresa cultiva seus valores, prepara seus líderes e constrói uma cultura capaz de atravessar gerações.

Por que tantas empresas não sobrevivem?

Estudos mostram que apenas uma em cada três empresas familiares chega à segunda geração, e menos de 10% chegam à terceira.
Esses números não significam apenas estatística: revelam o quanto ainda falta planejamento, diálogo e preparo humano para que o negócio vá além da história de seus fundadores.

Em muitos casos, a sucessão acontece de forma reativa, uma crise de saúde, um conflito interno ou a simples passagem do tempo obriga a família a decidir de repente. E quando a transição não é estruturada, o risco de ruptura é enorme.

Onde estão os maiores desafios

A sucessão envolve várias dimensões ao mesmo tempo:

  • a transferência da gestão executiva,
  • a partilha da propriedade e
  • a preservação dos valores e da cultura.

O grande desafio é que essas três dimensões raramente caminham juntas. A família discute o patrimônio, mas não a liderança. Ou fala da liderança, mas não prepara o sucessor para lidar com pessoas.
É nesse descompasso que muitos negócios se enfraquecem.

O olhar da gestão humanizada

Na minha visão, a sucessão não é só uma questão de cargos, contratos ou conselhos de administração.
Ela é, acima de tudo, uma questão de pessoas.

O que realmente faz a diferença não é apenas a governança formal, mas:

  • a qualidade do diálogo entre gerações,
  • a clareza sobre os papéis de cada um e
  • o preparo da nova liderança para assumir não só funções, mas responsabilidades com propósito.

Por isso, acredito que cultura organizacional forte é o maior ativo em uma sucessão. Ela garante que a tradição seja respeitada, mas que a inovação tenha espaço.

Assista o Podcast de Antonio Chaker, que participei e abordei esse tema.

Elementos que fortalecem a sucessão

Ao longo da minha experiência, vejo alguns fatores que aumentam muito as chances de sucesso:

  1. Diagnóstico claro da realidade
    entender o momento da família e do negócio, reconhecer forças e fragilidades.
  2. Planejamento estruturado
    criar critérios objetivos para sucessores, desenvolver novas lideranças e definir um cronograma de transição.
  3. Governança familiar e empresarial
    conselhos, protocolos e acordos que organizem papéis e evitem conflitos.
  4. Transição gradual
    o fundador deixa de ser gestor para se tornar mentor, preservando o legado sem impedir a autonomia da nova geração.
  5. Apoio contínuo
    sucessão não é evento, é processo; exige acompanhamento, avaliação e espaço para ajustes.

Muito além da herança

Seja no agronegócio, no varejo ou em grandes grupos empresariais, a sucessão é sempre um teste de maturidade.
Não basta entregar a gestão para o próximo da fila, é preciso preparar essa geração para liderar com visão, resiliência e autenticidade.

A sucessão bem conduzida não representa um fim, mas um novo começo. É a chance de renovar, inovar e fortalecer o legado, construindo negócios que atravessam gerações sem perder sua essência.

Se a sua empresa é familiar, a questão não é “se” haverá uma sucessão, mas “como” ela será conduzida.
E a forma como vocês lidarem com esse processo pode ser a diferença entre interromper uma história ou ir além, transformando-a em legado vivo para o futuro.